Diga-me com quem andas…

Todos que me conhecem sabem que eu sou leitor da Carta Capital. Acho que, nesse jornalismo semanal que se estabeleceu no país, ela é a melhor das revistas, até porque o parâmetro de comparação (Veja, Época e Isto É) é muito baixo, e está diretamente ligado ao lado da balança com a qual eu não me afino. Desculpem aqueles que não acreditam nisso, mas eu sou de esquerda e sempre vou ter mais simpatia com essa cara da moeda filosófica ocidental que com a velha coroa. De qualquer forma, me assustei ao ler o texto de Marcos Coimbra sobre o julgamento do suposto mensalão.

Não, eu não acredito na tese de que tenha existido o mensalão nos moldes que a mídia apregoa. Não acho, ainda, que todos os acusados sejam realmente tão criminosos quanto se quer. Odeio esse pré julgamento, que já decidiu que todos são culpados porque são políticos, não porque são suspeitos. Acreditar na tese de uma corrupção plena e irrestrita que comanda toda a política nacional é ser tão massa de manobra quanto achar que x ou y são inocentes. As pessoas não percebem, mas a desilusão política substituiu o senso crítico no país de tal forma que a única coisa discutida é a corrupção. Não se debate o sistema que leva a corrupção, como está estruturada nossa política e como conduz-se o modelo eleitoral brasileiro. O mensalão e todo e qualquer caso de corrupção são tratados sempre (e a mídia é a mola mestra disso) como ESCÂNDALO. Ou seja, tem a mesma profundidade que a próxima escapulida do Adriano de um treino do Flamengo.

Por isso eu não compro a tese do mensalão como ela se apresenta. Mas também não sou cego ou burro: algo aconteceu. O que, para os articulistas da Carta Capital, os pôs numa complicada berlinda.
Eles são apoiadores irrestritos do governo do PT, como eu sempre fui. Isso não é problema, aliás. Eu gostaria que todos os veículos assumissem a sua diretriz ideológica e seus candidatos como a Carta e o Estadão fazem, cada um pro seu lado. Mas ninguém pode simplesmente negar o que está acontecendo pelo simples fato que seus aliados podem estar caindo. Ao fazer isso, a Carta Capital e o seu articulista não se diferenciam tanto de Veja e seu feroz cão de guarda, o Reinaldo Azevedo.
Se a suprema corte brasileira, o STF, é o único detentor do direito de julgar de verdade o caso e não a mídia, como sempre apregoa Mino Carta, por que agora se ataca o STF? Porque se faz julgamentos ad hominem, procedimento adotado pela própria Veja e tão criticado pela mesma Carta? A que propósito se coloca o texto de Marcos Coimbra senão defender os interesses de seus patrões, tão envolvidos com PT quanto a Veja com os Democratas e Tucanos?

Uns fazem saber que andam de motocicleta, outros que são exímios músicos, alguns se apresentam como poliglotas. Identificamos seus times de futebol, os restaurantes que frequentam. Às vezes, até seus negócios e os ambientes inadequados que frequentam.
Eu concordo que há uma espetacularização excessiva em tudo na nossa mídia. Mas isso permite que ponhamos em dúvida a lisura dos ministros por eles aparecerem em demasia na mídia? Ou é apenas uma maneira de descaracterizar o julgamento, esvaziando o sentido dele e permitindo apenas uma visão do que ocorre? O que dizer do Joaquim Barbosa, que de herói da revista virou vilão após decidir condenar os “mensaleiros”? Quer dizer que a Carta apoiará Gilmar Mendes se esse decidir não punir ninguém?
A única coisa que realmente temos que ficar atentos é se os juízes estão cumprindo seu papel de julgar, não aplaudir quando se faz a justiça que queremos de um lado ou de outro. Não sou também imbecil de achar que a nossa corte é incorruptível, mas de que adianta apenas defender a corte quando ela julga pro seu lado? Eu não acredito na inocência de metade das pessoas ali e, pra ser bem sincero, acho que nem o Zé Dirceu é 100% inocente, apesar de não termos provas contra ele. É desonestidade, pra mim, criticar a Veja por colocar o Marcos Valério em sua capa acusando o Lula de chefiar a “quadrilha” e depois desmerecer o supremo por absolver o João Paulo Cunha só porque este é “amigo do chefe”. Escolher como capa um problema que desvia o foco do assunto principal (“O amianto mata”) para proteger os seus patrícios condenados parece não ser mais estratégia apenas da Veja.
Por isso temos essa visão infantil da política nacional: porque nossos veículos informativos confundem ideologia com patriciado. Eu ainda tenho muito respeito pela revista sim, sou seu leitor, mas eu me não sou burro. Espero que a Carta perceba seu erro e não caia nos mesmos erros dos semanários que tanto tem criticado pelos anos. Pelo bem do país.

Quid pro quo 3

Antes de ler o texto, peço que leiam Quid pro quo 1 e 2
Imagem tirada daqui
E sugiro que leiam, sobre o mesmo assunto dos Quid pro quo, esse texto.

Bem, Logo ia acontecer.

Tendo que lidar com o lamaçal aberto pela relação Cachoeira-Veja, a mídia se expõe (ainda devagar, claro). E nessa, começam a surgir os quiprocós da própria. É só ler os textos de cada um dos veículos que trata desse caso e ver o que eles dizem sobre seus confrades ou inimigos. Interessante como as informações chegam diferentes por diferentes veículos de mídia.
Primeiro, o mesmo assunto via Estado de São Paulo e Carta Capital:


Mesmo com apoio do senador Fernando Collor (PTB-AL) e de parte da bancada do PT, a CPI do Cachoeira desistiu nesta quinta-feira, 16, de pedir à Polícia Federal as gravações telefônicas das conversas entre o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com o jornalista Policarpo Junior, diretor da sucursal da revista Veja e um dos redatores-chefes da publicação.”

Pela leitura, tem-se a impressão de que as gravações das conversas entre Cachoeira e Policarpo não serão alvo das investigações. Obviamente que, ao usar do verbo “desistir”, o Estadão passa a impressão que o caso não interessa à CPI. O que é desmentido a seguir, na mesma matéria, quando se lê

Diante da forte reação da oposição e de parlamentares da base aliada, a comissão preferiu apoiar uma proposta para pedir à Polícia Federal o repasse, ordenado por nome, de todos os grampos telefônicos feitos nas operações Vegas e Monte Carlo. Em termos práticos, a decisão não muda nada o intento de acesso às conversas do jornalista, mas foi um recuo político de quem pretendia carimbar uma relação promíscua da revista com Cachoeira.”

Mesmo assim, nota-se um tom diferente do encontrado na Carta Capital, que desde a explosão do caso tem voltado toda sua munição contra sua inimiga editorial.


“O senador Fernando Collor (PTB-AL) apresentou à CPI um requerimento específico para obter os áudios em que o jornalista Policarpo Júnior, da revista Veja, é citado. O jornalista aparece em cerca de 200 conversas com Cachoeira. Collor e outros parlamentares querem saber se a relação entre os dois tinha alguma ilegalidade. O requerimento foi derrubado pelo relator, Odair Cunha (PT-MG). Ele afirmou que os áudios em que o jornalista é citado já estão à disposição da CPI e, portanto, não seria necessário um requerimento específico para isso.”

Considerada “chapa branca” por muitos, a Carta apresenta a mesma matéria com outro tom, buscando esclarecer que o requerimento de Collor não foi aceito porque os áudios já estariam disponíveis, sendo o requerimento uma pressão do Senador, inimigo histórico da revista Veja.

Mas não há qualquer destaque na matéria ao contato estabelecido entre Vaccarezza (PT) e o governador Sérgio Cabral (PMDB), que apareceu ontem em matéria do SBT Brasil.
Exclusivo: Vaccarezza troca mensagens comprometedoras com Cabral

A Folha de São Paulo, em compensação, não apresenta uma linha de Veja e Policarpo, ou mesmo Collor, na sua página principal. Aliás, o espaço para a CPI diminuiu bastante visualmente.


Todas as matérias da página principal da Folha (print de 18/05/2012 às 10h18m) se relacionam com as relações entre os partidos da base aliada do governo e Cachoeira.

O Globo, que entrou no quiprocó pela defesa simplesmente ridícula de Roberto Civita, traz apenas matérias relacionadas ao caso Vaccarezza – Cabral. E também em um reduzido espaço de sua página principal: Petista promete blindar Cabral na CPI

Já o G1, o portal da Rede Globo, se esqueceu do Cachoeira. Em verdade, tá lá no meio das matérias menores, n canto esquerdo, entre coisas como “Transexual ‘rouba a cena’ em desfile” e “Veja mentiras comuns em currículos”.

Vaccarezza (que eu não acho que seja alguém confiável) é o novo alvo de boa parte da mídia, e não me surpreende que seja justamente aquela acusada de fazer parte do paredão aliado à Veja. Os grupos que dominam a imprensa brasileira formam uma canalha conhecida desde a época da ditadura, e são famosos nessa manipulação de fatos. Não se isenta, contudo, a Carta Capital por não dar destaque ao Vaccarezza, mas pelo menos ela não deixou de lado Agnelo, governador petista, como a grande mídia afastou Perillo totalmente de suas matérias. Cadê o Perillo na Folha, no G1, no Estado, no Globo? Ninguém sabe, ninguém viu.


E o quiprocó continua quente na imprensa brasileira…

PS: Sabia que o José Serra também tem contratos com a Delta? NÃO. Bem, ninguém fala mesmo, né?

Quid pro quo 2

Clique para ler o Quid pro quo 1.

Bem, antes de tomar as duas atitudes imediatas que nos moveriam, dar play no vídeo sem pensar ou rechaçá-lo por ser protagonista do mesmo quem o é, é necessário refletir de maneira mais profunda e objetiva sobre o que representa esse discurso.

O senador Collor é um alvo fácil para qualquer crítica, ou melhor dizendo, é sempre pressuposição óbvia que suas palavras são indissociáveis de seu histórico, como presidente deposto por esquemas de corrupção. Isso posto, ouvi-lo pronunciar-se contra a corrupção é algo que causa urticária não apenas em mim, eu sei, mas em qualquer um que tenha acompanhado ou não o processo que o levou ao poder e, em seguida, o depôs mediante a opinião pública. O que está em jogo – e estará sempre, inescapavelmente – é a moral de qualquer palavra dita por este cidadão, mesmo já passados vinte anos de sua derrocada do posto maior da nação. Contudo, mediante as circunstâncias em que nossa política se construiu ao longo desses anos, de como se estruturou o poder e, principalmente, da mudança de certos paradigmas no jogo de forças que cada elemento representa, é necessário não apenas que um discurso como o posto aqui seja realizado, mas que saia, a meu ver, da boca do senador Collor. O que digo poderá soar contraditório, haja vista minha posição explicitamente esquerdista em todos os aspectos que concernem o humano, mas não é com esse verniz fácil também do comunista verborrágico que eu quero me colocar. 

O criminoso da vez é Roberto Civita, é Carlos Cachoeira, é Demóstenes Torres, Policarpo Jr., Perillo, Agnelo Queiroz e quem quer que faça parte desse esquema sujo. Mas, muito antes disso explodir como escândalo, criminosas relações entre o contraventor e a revista de Policarpo Jr. e Civita têm guiado a imprensa nacional há pelo menos 10 anos, como afirma o senador. É fácil, óbvio demais, desconsiderar o discurso de Collor mediante seu passado, mas se fosse exatamente a mesma peça oratória nas mãos de outra figura admirada do senado, como um Eduardo Suplicy ou algum que agrade a diretriz política pessoal, como Aécio Neves para os PSDBistas ou uma Ana Rita, para os PTistas, esse discurso talvez fosse reproduzido no Facebook, como um exemplo de moral e retidão do senador, bem como utilizado como denúncia em montagens diversas e também fáceis em seu alcance, propósito e divulgação. Mas, criminoso por criminoso, como não se perdoou Collor, não se deve perdoar Demóstenes, Cachoeira e Policarpo. Não se deve perdoar a Veja, ou mesmo o grupo Abril. 

São Policarpo e Civita que levam à escola de seus filhos uma revista sustentada pelo crime organizado, que se vale de interesses escusos e cria factóides em prol de uma moral distorcida e enviesada. A Veja não é assustadora pelo quanto vende, mas pelo quanto é DISTRIBUÍDA. Ela é lida gratuitamente em escolas, em consultórios médicos, em casa, no vizinho, na universidade, no SESC. Se Collor é eternamente o presidente criminoso derrubado pelo Impeachment, pelos “caras-pintada”, ele é o mesmo presidente posto no poder por Civita, por Marinho, o “caçador de marajás” da clássica revista Veja da época de sua eleição. Não é baluarte de moral, mas desde quando a Veja, a Abril, a Globo o são? Desde quando meios que tem relações escusas com bandidos diversos como Ricardo Teixeira, Cachoeira e outros é alguém a ser considerado? Se se critica Lula e o PT por alianças com gente como Sarney e o próprio Collor, porque não se criticar a Veja por sua aliança com Cachoeira? Porque não criticar Policarpo por defender em CPI o próprio Cachoeira, em escândalo denunciado pelo próprio Collor no vídeo acima? Quem pode se chamar de baluarte da moral em meio a essa “confraria” de bandidos? Aliás, a pergunta maior é o que torna a imprensa a única detentora da moral, se é ela também que detém em suas mãos o maior poder da era da informação, que é a veiculação da própria?

É muito bom para a nação que esse discurso tão claro, pontual e verdadeiro, seja proferido por quem foi. O que tudo isso implica, a reflexão que constrói, é capaz de levar-nos para um outro lado da discussão política, para além do discurso empobrecido e sucateado de “todos são corruptos” ou de “todo problema no Brasil é causado pela corrupção”. O que é o nosso senado, a nossa câmara, o nosso sistema político partidário? E, ademais, o que é a nossa imprensa, qual o poder que ela realmente possui, o que se faz dela e na mão de quem ela está? Ainda mais grave: na era da informação, onde está essa informação?

Não sou capaz, ainda, de aplaudir o senador Collor. Mas sou capaz de ouvir esse discurso como um sintoma de uma mudança de paradigma que nos obrigará a passar sem medo por questões difíceis como sigilo da fonte, liberdade de imprensa e reforma política. Ou isso, ou apenas nos conformaremos, e nunca daremos play no vídeo acima.

Quid pro quo



Segundo a Wikipedia:


Quid pro quo é uma expressão latina que significa “tomar uma coisa por outra”. Refere, no uso português e de todas as línguas latinas, uma confusão ou engano. Tem origem medieval, tendo sido usada, na sua origem, para referir um engano no uso de termos latinos num texto. Também podendo significar “Isso por aquilo”.
O seu significado nos países anglo-saxônicos evoluiu num sentido diferente, e é aí usada agora como como significando uma troca de bens ou serviços. É também aí muitas vezes usada como sendo troca de “favores”.



A revista Veja, aquela em que se pode confiar, que defende a moral e a ética, virou alvo… E, depois de muito fugir da raia, resolveu se defender!


A seguir, trecho de texto publicado em 12/05, sob o título: Falcão e os insetos: guerrilha digital envenena o Twitter, onde a revista Veja acusa Rui Falcão, presidente do PT, de articular uma guerrilha digital contra a revista utilizando Twitter (com um recurso infográfico, inclusive) e redes sociais:


“A internet aceita tudo. Chantagistas contrariados fazem circular fotos de atrizes nuas (vide o caso Carolina Dieckmann), revelam características físicas definidoras (“minimocartaalturareal1m59cm”), apelidam sites com artigos do Código Penal (“171”, estelionato) e referenciam-se em doenças venéreas — por exemplo, na sífilis (grave doença infecciosa causada pela bactéria Treponema pallidum) — para formar sufixos de nomes. É lamentável sob todos os aspectos que uma inovação tecnológica produzida pelo engenho, pela liberdade criativa e pela arte, combinação virtuosa só possível sob o sistema democrático capitalista, baseado na inovação, na economia de mercado e na livre-iniciativa, tenha nichos dominados por vadios, verdadeiros limbos digitais onde vale tudo — da ofensa pura e simples a tentativas de fraudar a boa-fé dos usuários. Cidadãos que se sintam atingidos por epítetos como esses acima, que vagam pela internet, infelizmente, não têm a quem recorrer.”

Raras são as vezes na história desse país em que se lerá em letras caras a postura política dos homens por trás da Veja como neste pequeno trecho. Aqui encontramos claramente a filosofia política por trás da Veja: ela é a defensora dosistema democrático capitalista, baseado na inovação, na economia de mercado e na livre-iniciativa”.

E, numa megalomania assustadora, cada vez mais, a Veja posa de defensora de algo quando, na verdade, ela deveria se preocupar em SE defender.

A Veja assume para si um discurso até raso, mas que é estratégia clássica para qualquer rato sem saída, num misto de maquiavelismo e contra-argumentação falaciosa.

Num outro momento do texto, surge a tradicional visão clássica civilizatória, que pensa a nação americana como o centro filosófico, político e cultural do ocidente: Em algum momento, essas diatribes precisam ser atenuadas, pois nem os filtros disponíveis nos programas de mensagens são capazes de impedir essas distorções que tanto atrapalham a funcionalidade e minam o gigantesco potencial civilizatório da fenomenal invenção nascida das melhores cabeças científicas e comerciais dos Estados Unidos da América.”

Não apenas é assustadora a associação direta de “cabeças científicas” com “comerciais” – porque, de fato, o pensamento eminentemente capitalista e neoliberal prevê que uma coisa só pode existir em benefício da outra -, mas a insistência em um alarmismo paranóico que tenta fazer o leitor crer em uma articulada organização que visa perseguir e censurar. Paranóia sempre funcionou melhor que informação, e é assim que o sensacionalismo substitui a busca pela verdade nos fatos. Datenas chovem nas tevês com a mesma estratégia, gritando palavras de “justiça” que deixariam qualquer Olavo de Carvalho orgulhoso.


O mais legal é que a Veja distorceu tudo, descaradamente. O suposto robô de que ela fala, que estaria sendo usado por petistas para o tuitaço é um ser humano e já foi até entrevistado:

http://altamiroborges.blogspot.com.br/2012/05/mentira-da-veja-sobre-os-robos.html?spref=tw


E, lendo o texto que aqui reproduzi, dá pra repensar o final da matéria da Veja:


A utilização massiva da internet, das redes sociais e de blogueiros amestrados faz parte das táticas de engodo e manipulação da verdade no Brasil. Internautas, fiquem de olho neles.



De olho em manipulações, Veja? Diante da acusação a sua única estratégia é empurrar uma a paranoica teoria da conspiração via Trending Topics? Isso realmente é tudo que a revista mais lida do país pode fazer para se defender? Jânio teria orgulho, viu?


Mas o baluarte da moral e dos bons costumes, Reinaldo Azevedo, já defendeu o seu palanqueA estratégia da ridicularização é tradicional deste blogueiro, que acusa os outros de sujos mas chafurda na lama da própria publicação. Ele distorce o que a própria revista disse em prol do que a revista quer defender. O discurso é o não dito pelo dito.


Mas a análise aprofundada desses episódios — e em especial daquele identificado pelo marcador #vejabandida — mostra que dois artifícios fraudulentos foram usados para fingir que houve adesão enorme ao movimento. Um robô, que opera sob o perfil “@Lu-cy_in_sky_”, foi programado para identificar mensagens de outros usuários que contivessem os termos-chave dos tuitaços, replicando-as em seguida. Além disso, entraram em ação “perfis peões”, ou seja, perfis anônimos, com pouquíssimos seguidores e muitas vezes criados de véspera, que replicam sem parar mensagens de um único tema (ou melhor, replicam-nas até atingir o limiar de retuítes que os tornaria visíveis aos mecanismos de vigilância de fraudes do Twitter.


Funciona assim: me perguntam se eu acredito em Deus, e eu digo que não. Depois afirmam que eu acredito em Satanás porque não acredito em Deus, pois uma coisa é o oposto da outra, logo é o lógico, certo? Da mesma forma, podem dizer que eu acredito na divindade como conceito, mas não no Deus cristão, pois o Deus assim, com maiúscula, não é sinônimo de Shiva, Rá ou Alá, mas apenas do Deus Cristão. Como não dei uma informação completa – porque, em verdade, a afirmação deveria se bastar -, a “lacuna” permite que preencham-na da maneira que aprouver ao interesse de quem interpreta a afirmação. E isso vai ser tido como verdade para quem quer ler assim.


Interessante é que o próprio blogueiro em outro texto de seu blog afirma que esses robôs são “pessoas que não existem”:


No Twitter, como deixa claro a reportagem da VEJA, a realidade não é diferente. Também ali, tuitaços são organizados por gente que participa do jogo político, e robôs se encarregam de multiplicá-los por intermédio de perfis praticamente sem seguidores. São “pessoas” que não existem. Nas respectivas áreas de comentários dos sites noticiosos, você pensa estar debatendo com um outro homem ou mulher-célula (como você), com um indivíduo (como você), e, na verdade, está a enfrentar um militante ou um militonto partidário que representa uma legião. É absolutamente legítimo que as pessoas tenham partido e até mesmo que o defendam na rede. Mas não é legítimo que o tuiteiro esteja a cumprir uma tarefa da máquina partidária — a menos que se identifique como tal. Você pensa estar, no Twitter, aderindo a uma causa surgida na rede e, na verdade, é apenas peça passiva de manipuladores.


Posso interpretar esse “pessoas que não existem” como uma contradição dele, não? O que é mentira e o que é interpretação no caso? Porque a interpretação alheia baseada nos fatos recolhidos, ou seja, a entrevista com a tal @Lucy_in_Sky_, não é interpretação, mas mentira e a afirmação que ela é um robô é mentira e não interpretação.


E esse escudo Reinaldo Azevedo é apenas um dos escudos que a Veja utiliza. A publicação semanal, da banca de jornal, é ainda mais baixa.





O “verniz democrático” da Veja está presente, ainda, na capa da revista nessa semana, que – como todo bom conservador acuado – usa a sua bíblia, a constituição, para fazer valer os seus gritos desesperados. A constituição – ou carta magna, como gostam de dizer os conservadores – serve ao reacionário como a Bíblia serve ao religioso: é a suprema norma, que é usada sempre mais em defesa de seus interesses que em defesa dos interesses comuns; a estratégia é que se advogue que ela sempre defende os interesses comuns, pois é uma palavra de uma autoridade superior a nós. Logo, ao invocá-la, necessariamente seus interesses privados se tornam os interesses comuns. Nem sempre  é possível que uma lei ou conjunto de leis possa ser lida literalmente mas, no caso, tomada dogmaticamente, ela é usada de tal forma como arma contra o “inimigo”, seja ele o demônio ou o comunista. E todos se irmanam contra o inimigo, pois querem estar do lado da palavra, e assim viram massa de manobra de interesses alheios. E a Veja assim procede, como se a luz fosse ela, última na escuridão da sociedade brasileira.

A estratégia da Veja é baixa e sem precedentes na história desse país. É só ler o próprio texto postado na página da revista, que mais uma vez distorce as acusações em prol de defender uma visão enviesada do que é a “liberdade” a “democracia”.


A frase de efeito do início diz tudo: “A ética do jornalista não pode variar conforme a ética da fonte que está lhe dando informações. Entrevistar o papa não nos faz santos. Ter um corrupto como informante não nos corrompe.”

Essa afirmação está corretíssima, óbvio ululante. É como dizer que o meu papel é ser do bem. Qualquer um compra, é fácil.

É como um político. Todo o político é a favor de que se invista em agricultura, saúde, educação, trabalho e segurança – os cinco dedos do FHC, lembra?


E quero ver ainda um político dizer que não vai investir em qualquer uma dessas cinco coisas! E, da mesma forma, qualquer um sabe que sua ética não deve variar de acordo com quem te dá informações, porque o contrário disso é ser LEVIANO! É como dizer, ainda, que você é contra a violência sexual contra mulheres! Quem é a favor é CRIMINOSO, não?

Mas a demagogia serve ao discurso da “ética” e da “liberdade de expressão”.

E, aliás, quem a Veja é pra falar em liberdade e em censura? Quem está censurando a Veja? Sua cúpula está sendo acusada de um CRIME, não é censura isso, é investigação! Investigação da Polícia Federal, que levou ao fato documentado de que a cúpula da revista tem relações íntimas com o Carlinhos Cachoeira e que a revista servia de veículo para seus interesses.

Mas a revista, no auge dos ataques contra seus supostos aliados, se fez de cega e apostou em outras capas, com assuntos diversos. Isso não é manipulação… isso é sonegar informação a seu leitor. Leitor que acreditou que o Arruda era a melhor opção para o governo. Arruda… aquele que após violar o painel do senado “deu a volta por cima”.



Ah, a nota na frente da imagem se refere ao empenho no valor de R$ 442.462,50 que o governo de Arruda assinou para comprar assinaturas da revista Veja com o dinheiro público do Distrito Federal.

A Veja que, aliás, elegeu como mosqueteiro da ética o senhor Demóstenes Torres, aquele que é amigo do Cachoeira.



(Lembrando que, para a Época, ele também é um homem de “princípios e convicções”.)

Meu problema em si nem é com o crime. Este, se foi cometido, será julgado e, espero, os responsáveis punidos. Meu problema é em uma revista como a Veja defender liberdade e ética. Como bem disse o Mino Carta em um texto publicado hojeEle se refere ao editorial do Globo de hoje“Roberto Civita não é Rupert Murdoch”, uma peça de corporativismo digna, sei lá, de comunistas (camaradagem é coisa de comuna, né?)! E, claro, ataca o filhote mais querido de Mino, a Carta Capital. Bem, eu sei que há de se duvidar sempre dos dois lados, mas não posso deixar de concordar com o trecho a seguir:

Vamos, de todo modo, à vezeira acusação de que somos chapa-branca. Apenas e tão somente porque entendemos que os governos do presidente Lula e da presidenta Dilma são muito mais confiáveis do que seus antecessores? Chapa-branca é a mídia nativa e O Globo cumpre a tarefa com diligência vetusta e comovedora, destaque na opção pelos interesses dos herdeiros da casa-grande, empenhados em manter de pé a senzala até o derradeiro instante possível.

Sim, porque Gilberto Freyre saberia identificar claramente esses sinhôzinhos que enxergam qualquer possibilidade de perder seus espaços como afronta, atentado e terrorismo. Não sou a favor do que o PT se tornou, mas não sou cego quanto ao que o governo de Lula e Dilma representam perante ao mundo de FHCs, Collors e (urticária) os milicos.

A senzala interessa à Veja, tanto que lemos em seus textos palavreado digno de nojo de tão incompreensíveis (Olavo de Carvalho feelings, again).

Nesse caso nem assusta que o blog de política da Veja seja intitulado Maquiavel. Pra revista, a defesa de sua liberdade e ética é mero maquiavelismo (lembrando que nada isso tem a ver com o Nicolau): os fins justificam os meios. E, como já Napoleão o fez, a Veja se acha o Príncipe. E para esses príncipes, os fatos

E, como bem diz o blogueiro (sujo, né Reinaldo?) Rodrigo Vianna:
Fatos não são o forte de “Veja”: dólares para o PT trazidos em caixas de whisky (que ninguém nunca viu), contas no exterior de gente ligada ao lulismo (jamais  encontradas, mas noticiadas como verdadeiras), queda de Hugo Chavez em 2002 (comemorada antes da hora,  com uma capa vergonhosa), grampo sem áudio (hoje, graças a outros grampos com áudio do esquema cachoeira, sabe-se porque o grampo sem áudio virou notícia na “Veja”)…


Aliás, aconselho muito a leitura desse texto do Vianna. Ele mostra como a Veja foi capaz de acreditar no Boimate: o cruzamento de um boi com um tomate! Não é de se espantar, haja vista que é a mesma revista que ainda vive na guerra fria e acusa seus inimigos de serem comunistas leitores de Gramsci! Sim, todo inimigo do “sistema democrático capitalista, baseado na inovação, na economia de mercado e na livre-iniciativa” é um Trotskista. E existem desses em toda esquina, esperando pra comer criancinhas indefesas. A inovação do capitalismo não impede a Veja de acreditar em um complô comunista via internet contra a revista. E quem vive no passado é militante de esquerda, né?

É Veja… mas que quiprocó, héin?