Terremoto de ignorância


Bem… primeiro leia esse post:

http://juliosevero.blogspot.com/2010/01/sera-necessario-um-terremoto.html

Quem já frequenta internet há algum tempo pode já ter ouvido falar desse grande polemizador.

Julio Severo é cristão, e como cristão defende ideais e posturas que cabem a quem se orienta fielmente pelas palavras bíblicas.

Na verdade, ele faz mais do que muitos que se dizem cristãos de verdade fazem. Ele ataca com unhas e dentes aquilo que vai contra as leis de Deus, e apresenta argumentos bíblicos para quase todas as críticas que elabora sobre os mais diversos assuntos. E ele faz questão de comentar todo tipo de assunto, sendo esse um dos blogs mais frequentemente atualizados que eu já vi na internet.

Ele possui, inclusive, um bom grupo de seguidores para um blog, sua comunidade no orkut possui 530 membros.

Já o vi, por vezes, ser motivo de chacota – inclusive só conheço seu blog porque meu irmão salvou nos favoritos, e me mostrou como sendo um blog quase “humorístico” – , dado o pesado conteúdo de suas críticas, que em geral vão tanto contra o pensamento do senso comum quanto contra o pensamento esquerdista e politicamente correto.

Dito isso… venho por meio desse post fazer algumas considerações.

Eu acho que a melhor expressão para resumir o que eu penso sobre o pensamento filosófico da modernidade é uma expressão que não é minha, mas de uma professora e amiga, Flávia:

vivemos na sociedade do “hipocritamente correto”.

O senso comum é a maior demonstração do quanto a reflexão humana se mediocriza dia após dia, com a liderança do pensamento midiático e dos ecobobos que pouco fazem pelo seu planeta além de vociferar contra o vento.

E é nessa sociedade que surgem figuras que pensam como Julio Severo.

Ele é fruto da liberdade de expressão, sim, claro. Todos tem esse direito, e eu os defenderei até a morte.

Mas é ainda mais claro que ele é fruto da elitização do pensamento capitalista ocidental e essencialmente eurocêntrico e preconceituoso.

Mas, a frase acima, para alguém que pensa como o Julio Severo, soa apenas como um libelo marxista/comunista. Uma argumentação de um herege desobediente que não compreende o plano de dominação mundial da esquerda e dos homossexuais.

Eu, então, reescrevo minha idéia.

Vivemos numa sociedade moldada pelo iluminismo, e como tal o discurso político se encontra nas mãos daqueles que tem acesso à educação.

Mas, apesar de esperarmos que a educação atinja todos os meios e classes, sabemos que numa sociedade centrada no poder e na transação econômica apenas os detentores desse poder podem ter acesso a uma educação de qualidade.

Mas, há algum tempo, a educação de qualidade deixou de ser o exercício da reflexão, da racionalidade científica, do questionamento, e passou a ser apenas a reprodução automática de sistemas numéricos e taxionômicos com o objetivo de inserção no mercado de trabalho. Vide o vestibular, exemplo mais gritante e caro.

Assim, temos uma educação automatizada, vazia de reflexão, nas mãos de uma elite rica. E que elite é essa?

A elite branca, que segregou seus antigos escravos às favelas do mundo e que é essencialmente conservadora e religiosa. Daí surgiram as nossas favelas, e daí surgiu o Haiti.

E é dessa elite que surgem pensadores como Julio Severo.

Porque, apesar da ascenção ao poder hoje em dia ser possível essencialmente pelo acúmulo de capital, os princípios do direito ao poder continuam ligados à meritocracia absolutista. Em outras palavras, é Deus quem fez dos ricos ricos e dos pobres pobres.

Assim sendo, fica fácil ver reações contra, por exemplo, a religião do Haiti.

É uma religião de pobres, pretos e analfabetos. Por isso é, como o candomblé no Brasil, associada erroneamente à bruxaria e ao satanismo.

Mas eu sou mais radical, quem me conhece sabe. Não vou criticar, aqui, apenas essa associação.

Eu acho que já passou da hora de pararmos de considerar bruxaria e satanismo coisas erradas.

Já passou da hora de segregarmos.

De separarmos.

De classificarmos.

Errado é quem mata. E quem deixa morrer é cúmplice. Como morrem de fome os milhões do Haiti, a despeito da falta de ação do resto do mundo.

Como morreram sob os olhos vendados da Igreja milhões de judeus na Segunda Guerra.

Como morreram diversos “hereges” torturados pela Inquisição.

Gente como Julio Severo é o tipo mais comum à podre clásse média. Essa a gente que sente falta da Inquisição. Que queria punir os pobres e os hereges.

É o tipo do Alkimin e de sua Opus Dei. Do Serra, do Reinaldo Azevedo, do Olavo de Carvalho, do Alexandre Garcia, da Miriam Leitão, da família Marinho, do PSDB, DEM(PFL), da Regina Duarte, e de tantos outros.

É também em resposta a esses anseios que urram em seus cultos gente como o pastor Silas Malafaia, Pe. Marcelo Rossi, Pe. Fábio de “Mela-Cueca”, Edir Macedo e outros líderes religiosos.

Eu me enlutei, como tantos outros, pelo povo do Haiti. Não sou rico, bonito e famoso como o Clooney para fazer um “USA for Haiti”. Tampouco acredito que qualquer fé justifique preconceitos. Não, eu não acho que um terremoto destruiu o Haiti porque lá se pratica vudu.

Eu sou ateu. Acho religião besteira, superstição inútil que não traz frutos para a humanidade. Ninguém evoluiu até hoje por crer em Deus, ao contrário. Todas as sociedades fanáticas religiosas são atrasadas e criminosas. Não há religião certa, nem deus certo. Há um bando de humanos mesquinhos errados.

Mas não acho certo, nem nunca vou achar, que se associe a religião ou qualquer crença ou orientação filosófica ao mal. Simplesmente porque não existe o mal.

Acho que o debate sério e filosófico sobre o pensamento religioso é necessário, urgente e inevitável. Senão viveremos eternamente à sombra de terremotos de ignorância.

E sabemos o caminho que esse pensamento faz. A religião se mistura com a filosofia política, que se mistura com o preconceito que bebe da segregação racial, que desemboca na segregação econômica, que justifica hipocrisia solidária, que leva ao politicamente correto dos que querem fazer diferença nesse mundinho sujo… e a guerra vem na esteira, seja santa, econômica, política…

Eu concordo em uma coisa com o Julio Severo… é mesmo a era do Apocalipse.

Haiti e Mais sobre o PNDH


Enquanto o mundo chora as vítimas do terremoto no Haiti, eu me pergunto se essa é a tragédia de verdade, ou se o Haiti é que é uma tragédia há uns 200 anos…

É tragédia um terremoto que devasta um país, ou um país que é ingovernável, que tem 80% da sua população vivendo abaixo da linha da pobreza, 42,5% de analfabetos e que é governado por gangues?

Agora é lindo ajudar o Haiti, fazer campanha no twitter… a demagogia, que não surge durante os vários anos de guerra civil e golpes.

É a mesma coisa da Somália: pais de preto e pobre.

Ninguém se importa com um país de preto e pobre se não tiver algum recurso natural que enriqueça os poderosos.

A Somália tem pirataria. Em pleno século XX. Não tem governo. Não tem estrutura alguma… mas também não tem petróleo, ouro, diamantes… não há recursos naturais na Somália…

Assim como o Haiti, que não produz nada além de açucar, banana e alguns legumes.

Assim, só existe Haiti quando Deus – porque é ele quem pune esse povo maldito que faz vudu – manda um terremoto.

Se Deus existe – e eu acredito que não – ele manda esse tipo de coisa pra dizer: melhor matar esses pobres coitados que esperar que algum desses branquelos nojentos ajude-os.

Bem, ao meu ver, no Brasil, a crise no Haiti desviou os olhos da mídia de mais uma “crise” arquitetada pela mídia e setores da direita.
Mas eu deixo a palavra com o grande jornalista Luiz Carlos Azenha:

http://www.viomundo.com.br/opiniao/o-que-aprendi-na-polemica-do-pndh/

Se bem que tem mais gente aqui interessada em saber do estado de saúde da Hebe que do PNDH.

É… é a humanidade.