Quem me dera…

Muitos e-mails e mensagens tem chegado nos últimos dias à minha caixa de e-mails contendo mensagens de ataque à candidata Dilma, provavelmente tentando convencer-me – e ao povo – de que o melhor a fazer é não votar nela.

Muitos deles tem origem numa campanha de várias instituições religiosas, que atacam Dilma por motivos tão diversos quanto a defesa do aborto e o seu passado de guerrilheira.

Tanto é que o PT foi obrigado a reagir, mandando imprimir um boletim para afastar essas discussões de alçada religiosa.

Mas, o que eu acho mais interessante, é que as pessoas acham que me convencem a não votar em um candidato pelo fato de ter um passado de comunista e guerrilheiro. É interessante, ainda, como as pessoas acham que ter feito parte de luta armada é o mesmo que ser criminoso, que votar em alguém de orientação originariamente comunista, marxista ou ao menos esquerdista é uma péssima escolha política.

Como se um dos principais motivos pelo qual eu voto na Dilma não fosse justamente esse.

Muitos ainda a ligam (e ao presidente Lula) à ação de grupos organizados como o MST.

E eu penso: ah, que bom seria se a relação entre o PT e o MST fosse tão mais estreita como as pessoas pensam!

Em verdade, nesse caso, o melhor a se votar seria o Plínio, já que ele é defensor de invasão de terras, da apropriação e do fim do latifúndio. Mas, como eu sei que a candidatura do PSOL tem mais força na Câmara que no executivo, voto nos deputados do PSOL em prol de uma luta mais séria por tais temas no congresso.

Ah, quem me dera que a minha candidata fosse tão comunista como a pintam.

Que ambos fossem tão marxistas a ponto de serem ateus! Muito melhor seria um presidente ateu e comunista, marxista e ex-guerrilheiro que um administrador pai de família ou um economista fiel a deus.

Quem me dera a minha candidata fosse a favor do aborto e da união entre homossexuais. Que fosse ela a única a decidir a favor dessas questões, sem ter que passar por um congresso cheio de políticos corruptos, direitistas, conservadores, atrasados e proselitistas.

Que maravilha seria ter uma candidata capaz de limpar o congresso da evangelização burra, do interesse dos donos de terra, dos aproveitadores baratos.

Ah, que bom seria se a ligação com movimentos revolucionários fosse assim tão forte, se a minha candidata tivesse mesmo matado inimigos em prol da liberdade de seu país.

Que bom seria se a candidata que pintam fosse mesmo a Dilma Roussef.

Sad… but true.

Bem…
venho eu com mais uma crítica fundamentada…

André Forastieri, ex-editor da lendária revista Bizz, colunista do R7, tomou uma atitude perigosa: falou mal do Metallica.

http://blogs.r7.com/andre-forastieri/2010/01/28/32-razoes-porque-o-metallica-e-chato/#comments

O senhor André Forastieri, ao contrário do senhor Júlio Severo, que critiquei no outro post, não é alguém com quem eu discorde totalmente.

Muito pelo contrário. Eu era leitor esporádico da Bizz, quando caía na minha mão. Tinha uma aliás, guardada, que falava sobre o lançamento do disco novo do Depeche Mode, o Exciter. Faz tempo…

Além disso, o Metallica não é mesmo flor que se cheire.

Eles fizeram dos anos 90 uma época muito triste para quem gostava de heavy metal.

Criaram um séquito de fanáticos que depois abandonaram ao léu em troca de fama, MTV e drogas.

Cometeram o Load e o Reload… Mataram e reincidiram no crime.

Lutaram contra o Napster. Posaram de chatos, carrancudos.

Eu teria motivos, sim, inúmeros, para odiar o Metallica.

Mas, aqui temos um caso clássico de um colunista que ficou velho.

Eu acho chato dizer isso do Forasta, mas acompanhe comigo. Leia um dos motivos para não se gostar de Metallica:

“É chato porque é para o moleque espinhudo, inseguro e rancoroso que existe dentro de todos nós.”

Bem, isto é algo que me incomoda há anos. É uma certa mania, comum principalmente em meio intelectual, de posar de adulto.

Digamos assim… fale mal de uma banda de adolescente. Aquela banda, da qual vc tinha camisetas, posteres e revistas… aquela banda que embalou seus primeiros beijos, seus primeiros porres.

Então…

Isso é passado. Você agora cresceu, tem que gostar de música de adulto.

Metal é música de adolescente.

E o que é música de adulto? Bem, alguns medalhões não mudam, mas há os “culturetes” que elegem a nova banda salvadora do pop/rock da semana.

E tem a MPB. Sempre ela…

Ah, tem também aquela de eleger um gênero popular mas aparentemente tosco e fazê-lo parecer pop justamente por sofrer ojeriza… acontece direto. Aconteceu com o brega, com o funk carioca…

Mas na verdade, essas atitudes não demonstram sabedoria, e sim uma patologia.

Sabe o que acontece a esses “adultos”? Ele não sabem a diferença de amadurecimento e velhice.

Nem a diferença entre ser adolescente e imaturo e ter uma alma de jovem.

Vou desenhar:

Quem posa de adulto geralmente finge que não, mas segue modinhas. Os de hoje seguem a moda do nerd descolado, que eu chamo de “culturete”. É fácil identificar, é aquele povo que usa All-Star mas acha demodê usar camisa do Slayer.

Que anda de cachecol na Paulista em pleno verão, mas tem nojinho da mocinha que sai do pagode de sainha curta.

E tem a velharada, que queria ser assim mas não quer pagar mico, por isso posam de sábios que veneram meia dúzia de ingleses e se acham os conhecedores de música.

Mas agem do mesmo jeito.

É essa galera que costuma taxar coisas como o Metallica de música pra adolescente.

Forastieri diz que não gosta de Metallica porque eles não tem senso de humor. Tem um dos comentários a esse post do Forastieri que resumiu tudo, feito por tiago, o goliardo:

-Não tem senso de humor? Gosto de varias bandas que não tem senso de humor. Estou escutando o album Closer neste momento, daquela banda de Manchester que só andava de preto e não era engraçada.

Não dá pra refutar esse argumento. É clássico da galerinha culturete gostar de toda merda que vem de Manchester. Não importa, porque o Smiths e o Joy Division eram bons, tudo que sairá de lá será. E é muito fácil falar bem de Smiths e Joy Division.

É o típico argumento de quem realmente não tem senso de humor.

É o tipo de pessoa que não entende que entrar numa “rodinha” num show do Metallica não é uma atitude adolescente.

Que não é vergonha de gostar da NWOBHM. Que usar camiseta do Iron e cabelão não é fase.

Na verdade, a gana por criticar o Heavy Metal demonstra uma infantil necessidade de autoafirmação para os velhotes que ouviram o The Queen is Dead e acham que só existe o Morrissey nesse mundo.

Para aqueles que não se conformam com a morte do Kurt Cobain, que apostavam no Oasis e depois no Strokes como os novos Beatles. Que achavam que o hiphop gangsta era uma modinha passageira, que o rock nacional ia produzir novos frutos depois do fim do Planet e dos Raimundos.

Que viram, como o Cazuza disse, seus ídolos morrerem de overdose, e nunca superaram isso. Idealistas, que queriam viver eternamente a juventude e a adolescência dos seus anos 60, 70 e 80.

Olha só! Quem será que não cresceu?

Me desculpem, mas o Heavy Metal is here to stay, baby!

O Metallica não acabou, nem o Iron… nem o Saxon, nem o Rhapsody nem o Blind Guardian, nem o Iced Earth, nem o Sepultura, nem o Slayer…

Seus fãs não debandaram. Não se cansaram de suas músicas, ao contrário, lotam seus shows.

Mas, eu não me lembro quando foi o último show do Morrissey no Brasil… se é que houve né?

Eu gosto do Morrissey aliás, muito mesmo. O cara é um gênio, sempre será

Gosto do Morrisey assim como gosto do Metallica.

Mas sempre achei Smiths uma bosta. Só gosto de How soon is now.

O Morrisey é muito mais talentoso sozinho. Mil vezes.

You are the quarry e Years of refusal são dois dos melhores álbuns dessa década.

E me desculpe, mas quem conhece o Kirk Hammet sabe que o Johnny Marr não toca guitarra melhor que o Chimbinha… e tenho certeza de que o Morrisey concorda…

Se bem que o Bernard Sumner também não sabe tocar, mas nem por isso fez músicas ruins…

E agora Forasta? vai me matar porque eu acho Smiths uma bosta?

De qualquer forma, não sou obrigado a concordar com ele, nem quero comprar briga com ninguém. Muito do que ele escreve, a maioria aliás, eu concordo e assino embaixo. O Forastieri é referência pra mim, e esse é um dos blogs que eu sempre dou uma visitadinha. Apesar de não ser a primeira vez que ele me decepciona, sei que é injustiça eu atacá-lo apenas porque ele não gosta de Metallica.

Mas, como eu sei que muitas outras pessoas disseminam esse preconceito contra a “música de adolescente”, eu aproveitei a excelente deixa desse texto para fazer uma crítica a essa tropa de choque da pseudo-intelectualidade chamada “culturete”.

Se você quer meu respeito, não calce um All-Star perto de mim, não comente sobre o filme iraniano/francês que você assitiu no espaço unibanco e não me chame para ver a nova música da mais nova promessa de Manchester.

Me convide pra ir na sua casa tomar uma breja e ouvir aquele seu vinil velho do Ride the Lightining.

Assim, você não me decepciona…

(a única coisa que me deixa decepcionado é não ir ao show do Metallica)

PS: EU SOU NERD E OUÇO METALLICA, PORRA!!!!

[ATUALIZADO] Vio o comentário de meu camarada Jericó a esse texto e percebi que posso ter sido meio preconceituoso com quem usa All Star ou gosta de filmes de arte. Na verdade, eu quis me referir apenas àquele tipo de pessoa que usa All Star e assiste filme iraniano/francês pra se incluir num grupinho cult, “pasteurizando” e evacuando o conteúdo das duas coisas. Não sei se tinha a necessidade de explicar, mas é bom deixar bem claro, né?
Apesar disso, nunca usei All Star… hehehe

Haiti e Mais sobre o PNDH


Enquanto o mundo chora as vítimas do terremoto no Haiti, eu me pergunto se essa é a tragédia de verdade, ou se o Haiti é que é uma tragédia há uns 200 anos…

É tragédia um terremoto que devasta um país, ou um país que é ingovernável, que tem 80% da sua população vivendo abaixo da linha da pobreza, 42,5% de analfabetos e que é governado por gangues?

Agora é lindo ajudar o Haiti, fazer campanha no twitter… a demagogia, que não surge durante os vários anos de guerra civil e golpes.

É a mesma coisa da Somália: pais de preto e pobre.

Ninguém se importa com um país de preto e pobre se não tiver algum recurso natural que enriqueça os poderosos.

A Somália tem pirataria. Em pleno século XX. Não tem governo. Não tem estrutura alguma… mas também não tem petróleo, ouro, diamantes… não há recursos naturais na Somália…

Assim como o Haiti, que não produz nada além de açucar, banana e alguns legumes.

Assim, só existe Haiti quando Deus – porque é ele quem pune esse povo maldito que faz vudu – manda um terremoto.

Se Deus existe – e eu acredito que não – ele manda esse tipo de coisa pra dizer: melhor matar esses pobres coitados que esperar que algum desses branquelos nojentos ajude-os.

Bem, ao meu ver, no Brasil, a crise no Haiti desviou os olhos da mídia de mais uma “crise” arquitetada pela mídia e setores da direita.
Mas eu deixo a palavra com o grande jornalista Luiz Carlos Azenha:

http://www.viomundo.com.br/opiniao/o-que-aprendi-na-polemica-do-pndh/

Se bem que tem mais gente aqui interessada em saber do estado de saúde da Hebe que do PNDH.

É… é a humanidade.

Hoje a festa é sua, a festa é nossa, é de quem quiser, quem vier!

Hoje já é dia 6 de janeiro, e eu ainda nada escrevi pra marcar a passagem de ano.

Bem, eu estava viajando, como todo brasileiro que se preze. Mas, o que é verdade, é que eu não tinha ainda formado algo bom o suficiente para dizer sobre o reveillon. Apesar de eu ser alguém cético e meio desencantado, eu sempre prezei muito essa data. Diferente do Natal, que pra mim era sempre sinônimo de reflexão e não de papai noel, ceia e o escambau, o reveillon é sinônimo de festa. Minha família todos os anos se reúne na casa de um parente e organiza um churrascão. É o momento de todos se reunirem, quando eu revejo os meus parentes que não posso ver o ano todo. Diferente do que eu disse no post “Abaixo a Família”, a minha família não tem nada de artificial. E eu realmente aproveito essas reuniões.

Mas, é claro, que reveillon para mim é muito mais que festa. Mas vamos começar como todo bom aluno de letras clássicas deve começar: etimologicamente.

A palavra “reveillon” vem da palavra réveil que significa, em francês, acordado, ou estar acordado. É claro que isso está relacionado com o fato de que todos ficam acordados até a meia-noite para esperar a virada, e além disso tb. Mas eu gosto de encarar as coisas num plano mais amplo.

A tradição de se manter acordado para fazer a contagem regressiva denota um investimento de esperança no que o novo ano trará. Espera-se sempre que o novo ano seja melhor que o anterior, e esse é o motivo de todos os votos e promessas feitas, sejam de caratér religioso, supersticioso ou simplesmente pessoal.

Mas, o olhar para frente deve sempre, na minha opinião, levar em conta um olhar para trás. Ao ficar acordado desde um ano a outro, deveríamos nós pensar não apenas em o que queremos para nós e para o mundo, mas o que fazemos para merecer esses desejos. E, muito além do chavão que implica esse pensamento, deveríamos nos lembrar do que constrói-se numa passagem de ano. O fechamento de um ciclo é um momento de rara importância para a maioria das pessoas, mas muitas vezes não lembraremos mais no futuro de qualquer coisa que parece ser de grande importância para nós agora.

O que foi 2009? Aliás, o que foi a década que se encerra?

Para a maioria das pessoas, que nutrem uma memória afetiva, emocional e racional imediatista e automática, será muito fácil dizer o que aconteceu de marcante em 2009. Mas você se lembra do que houve em 2008? 2007?

Na verdade, creio que daqui a cem, duzentos anos essa década será lembrada por apenas dois anos: 2001 e 2009. 2001 porque o paradigma das relações internacionais mudou drasticamente com a queda das torres gêmeas e o ataque ao Pentágono. Esse evento, além de uma tragédia e um crime, será lembrado como o momento em que o mundo percebeu pela primeira vez que entrava em uma nova era, que se iniciava nesse século XXI. É como a primeira guerra para o século XX: as características do mundo do novo século estão todas incluídas nesse evento. Temos uma amostra clara dos problemas relacionados à intolerância religiosa e ao anacronismo cultural que se impõe pela máquina do capitalismo – ao construir vales de diferenças entre países baseados na má distribuição de renda -, temos a concretização direta da globalização – pois só é possóvel conceber que terroristas do outro lado do mundo mandem sequestradores em aviões para dentro de centros urbanos norte-americanos em um mundo globalizado -, temos a questão das relações diplomáticas baseadas no capital que provém dos recursos energéticos – esse século com certeza será marcado pela questão dos recursos energéticos – e, por fim, temos o primeiro real vislumbre do poderio militar americano sendo ameaçado – a potência que perde o seu lugar, como outras que perderam e fecharam eras com seu desaparecimento.

2009 será lembrado por outro momento, mobilizador de massas, que o desprende também da sombra do século passado. A morte do seu maior ídolo vivo, Michael Jackson. Pode parecer pouco, mas pense que dos grandes nomes que moveram a cultura do século passado poucos vivem. Elvis morreu, dois dos Beatles também. Apenas ele, a sombra do gênio que foi, insistia em viver seu anacrônico conto de fadas, conto esse fruto direto do mundo que se construiu na modernidade. O século XX nos deu um mundo que preza a imagem, e alguns não sabem lidar com isso. Não há mais o conteúdo, não importa mais que o que se apresenta seja uma casca vazia, desde que essa seja bela. Michael foi a epítome dessa modernidade, em que a arte genuína é rara e o que sobra é o dispensável e consumível produto do capitalismo. A música que toca hoje, amanhã se esquece. E eu não tô falando sobre a mídia mainstream apenas, mas também sobre o suposto mundo indie, que lança um novo salvador do rock por dia, ou o mundo da música popular de acadêmico, que elege um novo grande astro a cada esquina da Vila Madalena. Não há mais lugar no nosso mundo para a arte, o que nos legou a modernidade foi uma apropriação da arte como produto transitório e fugaz. O mundo pós-moderno, por assim dizer, é o mundo que destrói para não por nada no lugar, que preza o conteúdo de valores vazios e abstratos – o dinheiro, a fama, a moda – e despreza aquilo que se liga ao passado, destruindo-o ao nivelá-lo ao status de outros produtos de consumo. E o Michael, na sua ingênua isensatez, encerrou e abriu essas duas eras. Sua vida e morte será lembrada como são as de Mozart, Beethoven e Wagner, sim, mas ao mesmo tempo pode ser marcante como o 11 de setembro, para definir a era que se incia como fruto e para além da pós-modernidade.

No ano que se encerra, na década que termina, vimos a transição mais clara possível do século XX para o XXI. Olhando para trás podemos olhar para frente com mais esperança? Não sei, mas com certeza toda reflexão é válida num mundo onde não faz parte da prática cotidiana dos cidadãos a reflexão racional sobre os fatos pelos quais passamos. Talvez assim possamos verdadeiramente nos ver “acordados” nessa virada de década.



Simplificando muito, poderíamos argumentar que os discursos pós-modernistas apelam principalmente para os vencedores dos processos de globalização e os discursos fundamentalistas para os perdedores.

Michael Hardt e Antonio Negri, Empire (2000), p. 150

Tente explicar Hitler a uma criança.

George Carlin (1937-2008), comediante