Conjuntura


I.
Do dicionário Caudas Aulete online:
conjuntura (con.jun.tu.ra) sf.
1. Situação não duradoura, resultante da combinação de diversos fatores ou circunstâncias: A atual conjuntura econômica é um desastre.: “Seus próprios pais com ela se aconselhavam nas conjunturas difíceis.” (Franklin Távora, O matuto))
2. Fato, acontecimento, ocorrência que modifica ou caracteriza determinada situação concreta.

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Conservador não precisa de diploma pra ser imbecil

Boa parte da minha revolta com o pensamento conservador e o liberalismo econômico não reside no fato de eu ser abertamente esquerdista. O meu problema com esses “pensadores” é que eles são egoístas. Não, isso não é um julgamento: a pessoa que defende a primazia do pensamento individual sobre o pensamento coletivo é simplesmente um egoísta. Essa pessoas fazem uma suposta profissão de fé na capacidade do indivíduo que, olhando de perto, é apenas uma descrença completa na humanidade como ente coletivo. Sociedades pra eles são indivíduos lutando até a morte pelo seu quinhão, não grupos buscando o que pode ser melhor para todos. Direitos são mercadoria tanto quanto deveres, e o mercado que os regule. Por isso a maioria deles acredita ao mesmo tempo em Deus e na mágica do Mercado Autorregulador. E vão buscar Deus na Igreja, claro, uma instituição comunitária!

Pior de tudo é que toda essa demagogia não contribuiu em nada pra humanidade. Serviu apenas para acirrar preconceitos e munir gente desonesta e mal intencionada em sua missão de acabar com as liberdades das minorias. Pode-se falar a merda que quiser do socialismo mas, como bem apontou em entrevista já antiga o grande Antônio Cândido, o socialismo permitiu que trabalhadores tivessem direitos. O capitalismo que esses senhores defendem nunca previu dar direitos a ninguém.
Quando perguntado se era socialista, o eminente intelectual disse:

Ah, claro, inteiramente. Aliás, eu acho que o socialismo é uma doutrina totalmente triunfante no mundo. E não é paradoxo. O que é o socialismo? É o irmão-gêmeo do capitalismo, nasceram juntos, na revolução industrial. É indescritível o que era a indústria no começo. Os operários ingleses dormiam debaixo da máquina e eram acordados de madrugada com o chicote do contramestre. Isso era a indústria. Aí começou a aparecer o socialismo. Chamo de socialismo todas as tendências que dizem que o homem tem que caminhar para a igualdade e ele é o criador de riquezas e não pode ser explorado. Comunismo, socialismo democrático, anarquismo, solidarismo, cristianismo social, cooperativismo… tudo isso. Esse pessoal começou a lutar, para o operário não ser mais chicoteado, depois para não trabalhar mais que doze horas, depois para não trabalhar mais que dez, oito; para a mulher grávida não ter que trabalhar, para os trabalhadores terem férias, para ter escola para as crianças. Coisas que hoje são banais. Conversando com um antigo aluno meu, que é um rapaz rico, industrial, ele disse: “o senhor não pode negar que o capitalismo tem uma face humana”. O capitalismo não tem face humana nenhuma. O capitalismo é baseado na mais-valia e no exército de reserva, como Marx definiu. É preciso ter sempre miseráveis para tirar o excesso que o capital precisar. E a mais-valia não tem limite. Marx diz na “Ideologia Alemã”: as necessidades humanas são cumulativas e irreversíveis. Quando você anda descalço, você anda descalço. Quando você descobre a sandália, não quer mais andar descalço. Quando descobre o sapato, não quer mais a sandália. Quando descobre a meia, quer sapato com meia e por aí não tem mais fim. E o capitalismo está baseado nisso. O que se pensa que é face humana do capitalismo é o que o socialismo arrancou dele com suor, lágrimas e sangue. Hoje é normal o operário trabalhar oito horas, ter férias… tudo é conquista do socialismo. O socialismo só não deu certo na Rússia.

Por quê?

Virou capitalismo. A revolução russa serviu para formar o capitalismo. O socialismo deu certo onde não foi ao poder. O socialismo hoje está infiltrado em todo lugar.
O destaque em negrito na resposta de Cândido é justamente o que o pensamento conservador renega. E isso fica evidente em qualquer texto que você leia, desde os micos de circo como Reinaldo Azevedo e Olavo de Carvalho até aqueles que se acham sérios, como os membros de um certo Instituto que tiveram a pachorra de publicar um texto intitulado “A obrigatoriedade do diploma – ou, por que a liberdade assusta tanto?” O texto é de 2009 mas só trombei com ele hoje por conta de meu irmão, jornalista de formação, e como ele fiquei abismado. Pra começar, o conceito de liberdade deles é uma abominação tão grande que chega a dar nojo.

Segundo que ele defende algo que não faz o menor sentido: o fim dos diplomas. Para esses conservadores o ser humano é tão autossuficiente, tão capaz, que ele deve gerir sua própria educação, independente de instituições, que para eles só servem para “perder tempo e dinheiro sendo doutrinado e estupidificado em cursos de ciências humanas”. A solução é a educação caseira, já que no mundo de hoje “com a quase universalização da internet, qualquer um está preparado para estudar por conta própria, desde que esteja munido do impulso genuíno para tal.” Eu poderia passar dias explicando porque isso é um absurdo, mas eu prefiro dar a palavra a meu irmão que rebateu esse texto muito melhor que eu no facebook:

Muito bem. O STF revogou a exigência do diploma de jornalismo (eu sou formado em jornalismo, inclusive), porém, o autor do texto esquece de mencionar que a revogação foi um pedido da ANJ, a Associação Nacional dos Jornais. Ou, como nós da área costumamos dizer, a Associação Nacional dos PATRÕES de Jornais. Foi uma entidade patronal que exigiu que o diploma não fosse mais obrigatório. O que uma entidade patronal quer, dentro do próprio sistema de livre mercado que o autor tanto defende? Lucro. Ou seja, a decisão não foi com a intenção de liberdade de expressão, nem pela liberdade dos profissionais não-diplomados. Foi apenas baseada em lucro, puro e simples.
Pois bem, mesmo assim, eu não discordo completamente da medida. Eu sou formado em Jornalismo e não acho que o diploma de jornalista tenha que ser obrigatório para o exercício da profissão. Acho que ele pode ser um diferencial, mas não vejo a necessidade de ser obrigatório.
Agora, dizer que TODAS as profissões poderiam existir sem a regulamentação e obrigação de um diploma, é algo que só mesmo na cabeça de alguém que acredita que o Livre Mercado pode regulamentar todas as coisas funciona. 
Vamos ao caso mais fácil de se criticar, primeiro: Medicina. Profissionais diplomados de medicina cometem erros? certamente. Desobrigar o diploma de medicina, criaria, no mínimo, dois enormes problemas.
1) Uma pessoa que nunca sentou nos bancos de uma universidade de medicina, e tentou aprender tudo de outras formas, só pode comprovar sua perícia de uma forma: na prática. Ou seja, vamos esperar que ele mate umas 30 pessoas nas mesas de operações, até que o livre mercado “regule naturalmente” esse profissional, o excluindo por ele ser um mal profissional. As 30 pessoas que morreram na mesa de operação até que isso acontecesse que se danem né?
2) Uma empresa (pública ou privada) que precise de profissionais de medicina, jamais iria escolher um profissional não-diplomado, justamente pelo risco dito acima. Ou seja, não iria fazer nenhuma diferença. O diploma continuaria sendo obrigatório, apenas extra-oficialmente. Ele poderia continuar exercendo sua imperícia “até aprender” em seu consultório. A única garantia que a empresa teria desse profissional é sua atividade prática.
Quanto a todas as outras profissões que exigem diploma, é fácil ver a mesma coisa. Um profissional ruim mancharia toda a classe? Será mesmo? Ora, isso JÁ ACONTECE no Brasil e no resto do mundo, e em quase todo lugar não é isso que se vê. Policias matam pessoas a torto e a direito, mas eles continuam sendo chamados pra ocorrências, porque? Porque não temos escolha. E nós não temos escolha dentro de um nível de classe trabalhadora.
Se você vê mil médicos matando gente em mesas de operação, quando você tiver uma doença grave, vai recorrer a que? Sua ÚNICA opção, continua sendo os médicos, sejam diplomados ou não. Esse argumento de que um profissional ruim mancharia toda a classe, obrigando-a a se auto-regular não faz o menor sentido, porque quando falamos de classe trabalhista, falamos de um setor inteiro da sociedade, e você não tem opção de decidir por outro. Se a classe médica esta manchada, você não vai subitamente parar de ir a médicos. Porque ou você se trata com eles, ou morre. Simples assim. Não adianta nada você estimular concorrência, se o nível do estímulo é a nível de classe. Só existe uma classe em cada profissão. Não existem duas classes de médicos, apenas uma, com vários sub-níveis.
Quanto a cursos “puramente teóricos”, quando o autor diz que “os professores apenas escrevem em um quadro e passam livros-texto” e que isso pode ser substituído pela internet, o autor indiretamente está defendendo o modelo educacional sócio-construtivista (que os próprios neo-liberais são contra). Por este método, alguém é capaz de aprender sozinho, se ir atrás sozinho. Pra que isso aconteça, é preciso que alguém tenha a tenacidade de um gênio. Ou você acha MESMO que é possível alguém aprender Física Nuclear sozinho, sem professor, apenas com livros? É claro que é possível. Pra gênios. O resto dos mortais precisa de um mediador, o professor, pra fazê-los entender.
Quando o autor defende que tudo pode funcionar pela concorrência do livre mercado, mesmo permitindo a oferta de “aulas práticas” a profissões que precisem disso, o autor esquece que, em alguns casos, estamos falando de vidas. Você não pode esperar que um profissional de Medicina não-diplomado aprenda matando algumas pessoas até que finalmente ele possa ter a perícia necessária pra trabalhar. Porque sim, meu amigo, um profissional de medicina não é formado só com aulas práticas. Se ele tiver apenas aulas práticas, uma grande maioria vai continuar sendo um péssimo profissional, pela falta de fundamentação teórica.
O mesmo ocorre com Psicologia, que o autor também citou. Você não pode deixar um psicologo não-diplomado aprender ferrando a mente de algumas dezenas de pacientes depressivos, bipolares, com distúrbios psicológicos leves, médios ou graves, até “aprender” e poder concorrer com seus serviços no livre mercado.
Não é possível aplicar o Livre Mercado em profissões cujo erro resulta em dano irreversível ou morte dos seus “clientes”.
Se alguém realmente acredita que é possível aplicar o livre mercado em qualquer coisa, essa pessoa precisa sair da clausura que vive e andar um pouco por ai, olhar ao redor, e ver que o mundo não gira em torno do livre mercado. E sim, das pessoas.

Não sei se preciso dizer mais algo, mas eu faria apenas um adendo: tire a obrigatoriedade da escola e ganhe trabalho forçado infantil. Liberdade é ter o direito de estudar, o dever é apenas o exercício da cidadania básica. Outro modelo geraria uma diferença de classes ainda maior que a que já temos, onde somente os donos do capital econômico e, por conseguinte, do capital cultural teriam seus filhos educados e o cidadão pobre não teria acesso algum à qualquer tipo de educação. Isso só geraria um retorno ao trabalho forçado imposto pelos pais, já que educar a criança passaria a não ser nem mais um bem acessível. Lutamos anos contra isso e é isso que queremos?
Mas tudo bem, você pode entrar lá no portal do “instituto” e ver outros impropérios diversos, todos clichês e bobagens repetidos a exaustão – porque toda falácia se torna verdade quando repetida ad nauseam. O texto em questão nem assinatura tem, o que soa estranho pra um grupo tão individualista, né? Aliás, se o individualismo é tão bom, porque montar um grupo? Não era mais adequado às suas filosofias cada um ir pra sua casa, estudar e lançar seus textos num blog pessoal? 
O conservadorismo e o liberalismo econômico são tão, mas tão errados que chegam a parecer piadas… de extremo mal gosto.

A Ascensão Conservadora

Achei interessante o debate chamado “Ascensão Conservadora”, realizado na USP em 28 de agosto de 2012 pois, apesar de versar muito sobre a política da cidade de São Paulo, ele serve como um diagnóstico do atual espectro político brasileiro. Análises de três grandes nomes do pensamento intelectual mais à esquerda, André Singer, Marlena Chauí e Vladimir Safatle.
O momento político brasileiro, como expõe Safatle ao fim, é de uma baixa reflexão de esquerda e acho que o debate é necessário do ponto de vista de um caminho mais radical de pensamento e a busca por ideias mais progressistas.
Achei no Viomundo do Luiz Carlos Azenha.

E as questões: